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TANTÁLIA.

Vi Tântalo também, num lago imenso

Que o mento lhe banhava, ardendo em sede.

Pois, a apagá-la se perdia o velho,

A água absorta escoando-se, um demônio

Aos pés seco atro lodo lhe mostrava.

Sobre a cabeça corpulentos galhos

Suspendiam-se frutas sazonadas,

Figos doces, romãs, pêras e olivas;

Mas, se o velho faminto ia colhê-las,

O vento as levantava às densas nuvens.


Odisséia, 456-465

pesquisa

Pesquisa de Macedônio Pisacha

TANTÁLIA surge a partir do encontro de quatro figuras reunidas em torno de questões comuns: o esgotamento; a crença e o resgate da sensibilidade; o espaço público e a construção de máscaras sociais. Por meio desse encontro, há a criação de um espaço coletivo mantido pela construção das trajetórias individuais que são compartilhadas com o público por meio de suas ações e discursos. O ambiente escolhido para essa troca é um set de gravação, um espaço virtual onde ocorrerá o último encontro do grupo e onde tudo será gravado.  Neste dia, serão registrados os esforços de cada um para que a sensibilidade individual seja resgatada. Mesmo esgotados, crêem nessa possibilidade e estipulam este como o último dia para sua realização. O público é testemunha ativa desse processo, colocado junto à área de atuação, ele observa as trajetórias, avalia o desenvolvimento e a coerência entre as ações e os discursos construídos pelas figuras que se dirigem diretamente a eles. Ao longo da obra, essa função vai se alterando e o espectador passa a ser cúmplice das contradições das personagens, de suas relações e das narrativas criadas. Neste momento, a clareza dos pontos de vista e procedimentos de criação dá lugar à dúvida e à perplexidade. Não importa a coerência na construção das máscaras sociais, nem os limites entre ficção e não ficção. O que impera é a crença. Por meio de uma obra que se baseia na ação viva e presente dos atores diante do público, o coletivo relativiza e enfraquece as opiniões, as certezas, os julgamentos e coloca todos os presentes num forte questionamento sobre a relação entre as crenças e ideologias construídas e sua profunda relação com o sensação de esgotamento.

"Tantália pode ser vista como um lugar verídico, pertencente à nossa geografia, para que possamos entendê-la em paralelo com nosso mundo. Este lugar, em que hoje habitam os personagens, teria tido como primeiro ancestral Tântalo, aquele que em sua tragédia foi condenado pelos deuses (aos quais amava e se identificava) a uma eternidade sem ser capaz de alcançar o que almejava. Assim vivem também os personagens da trama: carregam consigo a maldição de Tântalo e por que não dizer, de todos os homens e mulheres anônimos que, esgotados, perseguem desejos, expectativas e datas de pagamento, e sobrevivem por meio das crenças que assumem e dos travestimentos que fazem da realidade. Por Tântalo, Tantália já nasce fadada a perecer, como numa profecia bíblica. Para além do mito, Tantália é o lugar onde quatro pessoas creem e agem em suas horas derradeiras."

Macedônio Pisacha

 

sinopse

Sinopse

Quatro pessoas constituem o que poderíamos associar a um grupo de ajuda anônimo, e se reúnem numa noite para gravar uma espécie de documentário sobre seu último encontro. O grupo se chama T.R.E.V.O., e é constituído por pessoas que perderam a capacidade de empatia e pretendem reabilitar sua sensibilidade – trata-se do Movimento pela Retomada da Sensibilidade. Ao longo da existência deste grupo, cada um planta e acompanha o crescimento de uma planta frágil, supostamente uma flor, que eles acreditam representar aquilo que perderam. Em seu último encontro, o grupo grava quaisquer evidências que deixem para a posteridade a prova de suas tentativas para recuperar a sensibilidade e também de suas existências. No futuro que idealizam, quem descobrir o filme tem autorização para editar seus cenários, pois tudo foi feito diante de um cromaqui verde fluorescente para que aquelas pessoas habitem outros lugares após o desastre.

 

coletivo

Quem integra

Atuação, direção, concepção de figurino e caracterização: Felipe Rocha, Naia Soares, Marcus Vinicius Garcia e Marô Zamaro

Concepção de luz e cenário: Felipe Rocha

Colaboradores: Evandro Pimentel, Francisco Lauridsen Ribeiro, Lívia de Souza, Marcela Grandolpho (Preparadora Vocal), e Mateus Fávero

fotos

Fotos

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